O vício em jogos, ou transtorno de jogo, tem sido um tema de crescente debate, com muitos questionando se a culpa reside nos próprios games ou em fatores subjacentes. Uma nova pesquisa, conduzida por neurocientistas da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, lança luz sobre essa questão, sugerindo que condições pré-existentes, como depressão e ansiedade, são os verdadeiros catalisadores da dependência em jogos eletrônicos.
A Pesquisa por Trás do Vício em Jogos
Publicado no renomado JAMA Network Open, o estudo analisou um grupo significativo de 4.289 adolescentes entre os anos de 2018 e 2022, como parte do Adolescent Brain Cognitive Development Study. Os pesquisadores, Kylie Falcione e René Weber, consideraram uma série de fatores complexos, incluindo sintomas de depressão, ansiedade, impulsividade, histórico de bullying e eventos traumáticos. A metodologia abrangente permitiu uma análise aprofundada das interconexões entre esses elementos e o desenvolvimento do transtorno de jogo.
Os resultados foram reveladores: o transtorno de jogo está intrinsecamente ligado a condições psicológicas pré-existentes, e não apenas à natureza inerentemente viciante dos jogos. Falcione explicou que “as crianças que já apresentavam sintomas depressivos e problemas sociais eram mais propensas a ficar presas em um ciclo de jogos problemáticos”. Para esses indivíduos, os jogos podem se tornar um mecanismo de enfrentamento, embora prejudicial, para lidar com suas dificuldades emocionais e sociais.
A Espiral Descendente da Dependência em Games
René Weber complementa essa visão, descrevendo uma “espiral descendente” onde psicopatologias agravam o transtorno de jogo e vice-versa. Essa dinâmica torna desafiador discernir a causa e o efeito, ressaltando a complexidade do problema. A pesquisa enfatiza que simplesmente remover os videogames da vida de um indivíduo raramente é a solução. Sem tratar a raiz do problema, como a depressão ou a ansiedade, a pessoa pode recair ou buscar outras formas igualmente nocivas de escape.
Tratamentos Mais Eficazes para o Vício em Jogos
As conclusões deste estudo são cruciais para orientar abordagens de tratamento mais eficazes. Falcione defende que o “melhor passo é começar pelo nível da psicopatologia — identificar os problemas subjacentes”. Isso significa que, em vez de focar apenas na restrição do tempo de tela ou na proibição de jogos, os tratamentos devem abordar as questões de saúde mental que impulsionam o comportamento compulsivo. Estima-se que o transtorno por jogos afete cerca de 3% dos jogadores em todo o mundo, o que ressalta a importância de uma compreensão aprofundada e de intervenções adequadas.
É fundamental que a sociedade e os profissionais de saúde reconheçam que o vício em jogos é um sintoma, e não a causa primária. Ao focar no tratamento de condições como depressão e ansiedade, é possível oferecer um suporte mais completo e duradouro para aqueles que lutam contra a dependência em games. A conscientização sobre essa perspectiva pode ajudar a desmistificar o problema e direcionar os esforços para soluções mais humanas e eficazes.
Se você ou alguém que você conhece está enfrentando dificuldades relacionadas ao vício em jogos, procure ajuda profissional. O tratamento adequado pode fazer uma diferença significativa na qualidade de vida.
Para mais informações sobre o impacto de regulamentações no universo dos jogos, confira nosso artigo sobre PL da Adultização: O Impacto nos Games, Loot Boxes e Pay-to-Win no Brasil.
Você pode ler o estudo completo na íntegra (em inglês) no JAMA Network Open.