
A corrida pela Inteligência Artificial (IA) está remodelando o mercado de componentes eletrônicos, e o setor de smartphones é um dos primeiros a sentir o impacto. Um novo ciclo de alta nos preços das memórias DRAM e NAND está em curso, impulsionado pela demanda voraz dos hyperscalers por infraestrutura de IA. Essa escalada de custos deve apertar as margens dos fabricantes de dispositivos e, em última instância, pode resultar em preços mais altos para o consumidor final, especialmente nos modelos de gama média.
A Demanda por IA e a Crise de Abastecimento de Memória
O aumento acentuado nos preços das memórias começou no segundo semestre de 2025 e tem como principal motor a necessidade de grandes volumes de memória de alto desempenho para treinar e executar modelos de IA.
Analistas da corretora Bernstein apontam que a forte demanda por parte dos hyperscalers (como Google, Microsoft e Amazon) por memória dedicada à IA está consumindo a maior parte da capacidade de produção global. Essa concentração de capacidade no segmento de IA tem um efeito cascata, limitando a oferta de memória para outros setores, como o de smartphones e PCs.
Os preços contratuais da DRAM móvel, essencial para o desempenho dos smartphones, tiveram uma alta projetada de 30% a 40% no quarto trimestre de 2025, com previsões de novas elevações no primeiro semestre de 2026. Embora o aumento do preço da NAND (usada para armazenamento) seja mais moderado, os fornecedores estão firmes em aplicar reajustes, e a expectativa é de restrições de fornecimento ao longo de o ano de 2026.
Como o Aumento de Preços Afeta Diferentes Segmentos de Smartphones?
O impacto do custo da memória varia drasticamente entre os diferentes segmentos do mercado. A memória representa cerca de 4% do preço médio de venda de um iPhone, mas pode ultrapassar 10% em um smartphone de gama média, como os da linha Redmi da Xiaomi.
Para fabricantes de dispositivos Android, especialmente aqueles que competem nas faixas de preço mais baixas e médias, a pressão sobre as margens é significativa. Uma alta de 40% no preço da memória, por exemplo, poderia reduzir a margem bruta de smartphones da Xiaomi em 2 a 3 pontos percentuais.
Historicamente, as margens das fabricantes de equipamentos originais (OEMs) se expandem durante as quedas de preço da memória e se contraem durante os ciclos de alta. Para mitigar o impacto, as fabricantes podem ser forçadas a repassar parte do aumento de custo para os consumidores, o que, por sua vez, pode afetar o volume de vendas.
O que o Consumidor Brasileiro Pode Esperar?
O cenário de aumento de custos no mercado global de componentes eletrônicos tem reflexos diretos no Brasil. Com a memória sendo um componente de custo mais relevante em modelos de entrada e intermediários, é justamente o consumidor que busca um smartphone mais acessível que pode sentir o maior impacto.
A tendência é que os fabricantes priorizem a manutenção das margens em seus modelos premium, onde o custo da memória tem um peso percentual menor. Já nos modelos mais populares, o repasse de custos é mais provável, o que pode atrasar a chegada de novos recursos ou levar a um aumento no preço final dos aparelhos.
A cautela se instalou na cadeia de suprimentos Android, com orçamentos mais apertados e um planejamento mais complexo para o próximo ano. Enquanto a demanda por IA continua a impulsionar o mercado de chips de memória para o alto, o consumidor de smartphones precisa se preparar para um período de preços menos amigáveis.
Para mais informações sobre o mercado de chips e o impacto da IA, confira a cobertura completa da Reuters sobre a indústria de semicondutores.
Palavras-chave: DRAM, NAND, IA, Inteligência Artificial, Xiaomi, Apple, Preço, Smartphone, Chip, Memória.