A gigante chinesa de tecnologia **Huawei** está prestes a lançar uma nova tecnologia de infraestrutura de inteligência artificial que promete revolucionar a eficiência de uso de hardware de IA. A novidade, que será apresentada em uma conferência da indústria, visa aumentar a taxa de utilização de unidades de processamento gráfico (GPUs) e unidades de processamento neural (NPUs) para cerca de **70%**, um salto significativo em relação à média atual de 30% a 40%. Este avanço, reportado pelo jornal estatal Shanghai Securities News, é um marco importante na estratégia da China para alcançar a autossuficiência tecnológica em um cenário de crescentes restrições internacionais. A otimização via software surge como uma resposta engenhosa e pragmática aos desafios impostos pela “guerra tecnológica”.
Este avanço é visto como um movimento estratégico da Huawei para mitigar a desvantagem de hardware da China, impulsionando o desempenho de seus próprios chips Ascend e, potencialmente, reduzindo a dependência do país em relação aos semicondutores da **Nvidia**. A escassez de chips de IA de última geração e as sanções impostas pelos EUA têm forçado as empresas chinesas a buscar soluções criativas, e a meta de 70% de utilização, se concretizada, pode significar uma vantagem competitiva considerável para o ecossistema de IA chinês.
Como o novo software de IA da Huawei otimiza o uso de GPUs?
O cerne da inovação reside em uma abordagem orientada por software, que busca extrair o máximo de desempenho dos recursos de computação existentes. O software de infraestrutura de IA da Huawei é projetado para oferecer **gerenciamento unificado** de recursos de computação, o que inclui não apenas seus próprios chips Ascend, mas também GPUs da Nvidia e de terceiros. Essa capacidade de orquestração é crucial para lidar com grandes cargas de trabalho de IA em clusters de hardware, permitindo que os desenvolvedores aloquem e gerenciem recursos de forma mais granular e eficiente. A otimização de recursos é um gargalo conhecido na computação de alto desempenho, e a solução da Huawei promete desbloquear o potencial latente de infraestruturas de IA já instaladas.
A tecnologia é comparada a soluções de empresas como a Run:ai, adquirida pela Nvidia em 2024, que se especializam em orquestrar cargas de trabalho de IA em larga escala em clusters de GPU. A estratégia da Huawei reflete a visão de seu fundador, Ren Zhengfei, de que a China deve se apoiar em algoritmos, software e tecnologias de cluster para superar as limitações no desenvolvimento de chips de IA individuais. Essa filosofia de “software para compensar o hardware” tem sido a espinha dorsal da resposta chinesa às restrições de exportação, oferecendo uma solução viável para empresas chinesas que buscam manter a competitividade em IA sem depender exclusivamente de componentes estrangeiros de última geração.
Qual o impacto desta tecnologia na dependência da China em relação à Nvidia?
A busca por autossuficiência em semicondutores é uma prioridade máxima para a China, especialmente no contexto das tensões comerciais e restrições de exportação impostas pelos Estados Unidos. Ao aumentar drasticamente a eficiência de uso de seus próprios chips Ascend, a Huawei pode impulsionar as vendas domésticas e, consequentemente, diminuir a necessidade de importação de chips de alto desempenho da Nvidia, que domina o mercado global de hardware para IA. A solução da Huawei ataca o problema de forma diferente: em vez de buscar o chip mais potente, ela maximiza o uso do que já está disponível. Este é um ponto de inflexão na estratégia de IA da China, movendo o foco da pura potência de hardware para a inteligência de infraestrutura. A longo prazo, isso pode criar um ecossistema de IA mais resiliente e menos vulnerável a choques geopolíticos.
A Huawei já está promovendo seu sistema de computação em ultra-larga escala, o **CloudMatrix 384**, que agrupa chips Ascend para gerenciar cargas de trabalho intensivas em data centers. Este sistema, que recentemente liderou a lista de 10 principais invenções bienais da empresa, demonstra o foco da companhia em soluções de cluster e software para competir no cenário global de IA. O CloudMatrix 384 é um exemplo concreto de como a Huawei está aplicando sua filosofia de otimização de software em escala, e este ecossistema integrado é a chave para a ambição da Huawei de se tornar a principal fornecedora de soluções de IA na China.
Quais são os próximos passos da Huawei no mercado de chips de IA?
A Huawei já delineou um roteiro de três anos para sua série de chips Ascend, que inclui os próximos lançamentos dos modelos 950PR/DT, 960 e 970, juntamente com a expansão de suas soluções de cluster em larga escala. O investimento maciço em pesquisa e desenvolvimento, que atingiu 179,7 bilhões de yuans (cerca de US$ 25,2 bilhões) em 2024, sublinha o compromisso da empresa em se tornar uma força dominante no ecossistema de IA. A estratégia de longo prazo da Huawei não se limita apenas a chips e software, mas abrange o ecossistema, desde o hardware de infraestrutura até as ferramentas de desenvolvimento. A empresa está construindo uma alternativa completa ao domínio ocidental, com o objetivo de criar um padrão nacional para a computação de IA.
Este movimento da Huawei não é isolado. Outras empresas chinesas, como a SiCarrier, ligada à Huawei e apoiada pelo governo de Shenzhen, também estão avançando na produção de equipamentos e softwares para semicondutores, indicando um esforço nacional mais amplo para a autossuficiência em toda a cadeia de suprimentos de semicondutores. A coordenação entre a Huawei e outras entidades apoiadas pelo governo reforça a seriedade do projeto de autossuficiência. A China está investindo pesadamente para fechar a lacuna tecnológica, e a otimização de software da Huawei é uma peça fundamental nesse quebra-cabeça complexo e de alto risco.
Para entender mais sobre o contexto da guerra tecnológica e a busca da China por autossuficiência, confira nosso artigo sobre guerra tecnológica.