Fóssil Jurássico: Réptil Desconhecido Desvendado Após 90 Anos

Pesquisa aponta existência de réptil gigante do mar no período ...

Fóssil Jurássico: Réptil Desconhecido Desvendado Após 90 Anos

Um fóssil de réptil do período Jurássico, cujas metades permaneceram separadas por 90 anos em museus diferentes, foi finalmente reunido e identificado como uma nova espécie. A descoberta, liderada pelo paleontólogo brasileiro Victor Beccari, revela detalhes sobre a diversidade de répteis antigos e desafia concepções anteriores sobre a evolução de grupos como os rincocéfalos.

A espécie recém-descrita, batizada de Sphenodraco scandentis, vivia em um arquipélago e possuía características adaptadas à vida arborícola, como membros longos. Este achado é crucial para entender a história evolutiva dos rincocéfalos, um grupo de répteis que hoje é representado apenas pelo tuatara da Nova Zelândia.

A Descoberta de um Fóssil Fragmentado

A jornada para identificar o Sphenodraco scandentis começou quando Victor Beccari, assistente científico na Coleção do Estado da Baviera para Paleontologia e Geologia, na Alemanha, notou semelhanças entre um fóssil no Museu de História Natural de Londres e outro que ele havia examinado anteriormente no Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt. O que pareciam ser dois espécimes distintos eram, na verdade, partes complementares do mesmo fóssil, separadas e vendidas independentemente há quase um século.

A peça de Frankfurt, coletada em 1930, havia sido inicialmente classificada como Homoeosaurus, um gênero extinto de rincocéfalo. No entanto, a análise detalhada dos membros do animal por Beccari revelou que eles eram muito longos, sugerindo um estilo de vida arborícola, diferente do Homoeosaurus terrestre. Essa observação foi o “estalo” que levou à conexão das duas metades do fóssil.

Características Únicas do Sphenodraco scandentis

O Sphenodraco scandentis apresenta diversas características que o distinguem de outros rincocéfalos conhecidos. Sua cabeça é triangular, os dentes são voltados para trás e o úmero possui uma crista particular para a inserção de músculos. Essas particularidades contrastam com a cabeça redonda e os dentes verticais de espécies como o Homoeosaurus e o Kallimodon.

Para assegurar a precisão da comparação, Beccari e sua equipe empregaram a morfometria geométrica, um método estatístico que quantifica a forma dos organismos a partir de coordenadas anatômicas em ossos-chave. Essa abordagem permitiu demonstrar que a nova espécie se destaca significativamente das outras, confirmando sua singularidade.

Por Que o Sphenodraco scandentis Importa?

A descoberta do Sphenodraco scandentis é de grande importância para a compreensão da história evolutiva dos rincocéfalos. Anteriormente, acreditava-se que esse grupo possuía uma morfologia pouco diversa e que não havia mudado muito ao longo do tempo. No entanto, este novo fóssil demonstra que os rincocéfalos eram ecologicamente diversos e dominavam vários estilos de vida, incluindo o arborícola, antes do surgimento dos lagartos.

Os rincocéfalos foram um grupo muito variado, presente em todos os continentes, mas entraram em declínio no final do Cretáceo, há cerca de 66 milhões de anos, restando apenas o tuatara. A pesquisa sobre o Sphenodraco scandentis contribui para desvendar os motivos desse declínio e a resiliência dos lagartos, que eram bem aparentados, mas sobreviveram.

Preprint: Atenção aos Detalhes da Pesquisa

É importante notar que o estudo sobre o Sphenodraco scandentis foi publicado na Zoological Journal of the Linnean Society. Para pesquisas que ainda não passaram por revisão por pares, como preprints de plataformas como arXiv, bioRxiv ou medRxiv, é fundamental incluir um aviso de que o trabalho ainda não foi revisado. No entanto, este não é o caso aqui, pois a publicação já ocorreu em uma revista científica renomada.

A pesquisa de Victor Beccari e seus colegas, publicada em julho de 2025, é um exemplo notável de como a colaboração internacional e a análise meticulosa de coleções de museus podem revelar segredos antigos e reescrever partes da história da vida na Terra.

Artigo científico: BECCARI, V. et al. An arboreal rhynchocephalian from the Late Jurassic of Germany, and the importance of the appendicular skeleton for ecomorphology in lepidosaurs. Zoological Journal of the Linnean Society. v. 204, n. 3. 2 jul. 2025. DOI: 10.1093/zoolinnean/zlae084