A astrofísica acaba de testemunhar um evento sem precedentes que está reescrevendo nossa compreensão sobre os buracos negros supermassivos e suas interações com as estrelas. Pela primeira vez, cientistas confirmaram o caso de uma estrela que não apenas sobreviveu a um encontro com um buraco negro supermassivo, mas também retornou para um segundo evento de ruptura. Esta descoberta extraordinária desafia as convenções e sugere que os espetaculares flares observados podem ser apenas o início de uma história muito mais complexa.
O Fenômeno Inesperado: AT 2022dbl
O evento em questão, denominado AT 2022dbl, é um flare causado quando uma estrela se aproxima demais de um buraco negro e é dilacerada pelas forças gravitacionais extremas. O que torna este caso único é a repetição quase idêntica do flare cerca de dois anos após o primeiro, vindo exatamente do mesmo local. Isso implica que a estrela não foi completamente destruída no primeiro encontro, mas sim sofreu uma ruptura parcial, mantendo grande parte de sua massa e retornando para uma nova passagem. Essa observação muda fundamentalmente a visão de que esses eventos de ruptura tidal (TDEs) são sempre eventos de destruição total.
“A questão agora é se veremos um terceiro flare depois de mais dois anos, no início de 2026”, diz o Prof. Arcavi. “Se virmos um terceiro flare, isso significa que o segundo também foi a ruptura parcial da estrela. Então, talvez todos esses flares, que temos tentado entender há uma década como rupturas estelares completas, não sejam o que pensávamos.”
— Prof. Iair Arcavi, Tel Aviv University
Buracos Negros Supermassivos e a Ruptura Tidal
No centro de cada grande galáxia, incluindo a nossa Via Láctea, reside um buraco negro supermassivo com milhões a bilhões de vezes a massa do Sol. Embora sua existência seja confirmada (o que rendeu o Prêmio Nobel de Física de 2020 pela descoberta do buraco negro central da Via Láctea), a forma como esses monstros se formam e afetam suas galáxias hospedeiras ainda é um mistério. A dificuldade em estudá-los reside no fato de que são, por natureza, ‘negros’ – sua gravidade é tão intensa que nem mesmo a luz consegue escapar.
No entanto, a cada 10.000 a 100.000 anos, uma estrela pode se aventurar muito perto de um buraco negro supermassivo, resultando em sua ‘espaguetificação’ – um processo onde as forças de maré do buraco negro a dilaceram. Metade da estrela é ‘engolida’ pelo buraco negro, enquanto a outra metade é ejetada. O material que cai no buraco negro o faz de forma circular, aquecendo-se e irradiando intensamente, ‘iluminando’ o buraco negro por algumas semanas a meses. Isso oferece aos astrônomos uma breve janela para estudar suas propriedades.
Implicações e o Futuro da Pesquisa
A descoberta do AT 2022dbl e sua repetição sugerem que a brilhante e a temperatura desses flares podem ser muito mais baixas do que o previsto, indicando que muitos TDEs podem ser rupturas parciais, e não totais. Se um terceiro flare não ocorrer em 2026, isso pode significar que o segundo flare foi a ruptura completa da estrela. De qualquer forma, essa pesquisa liderada pela Dra. Lydia Makrygianni e supervisionada pelo Prof. Iair Arcavi, da Tel Aviv University, com colaboração de muitos pesquisadores internacionais, publicada no Astrophysical Journal Letters, forçará os cientistas a reescreverem a interpretação desses eventos e o que eles podem nos ensinar sobre os buracos negros no centro das galáxias.
Esta nova perspectiva abre caminho para uma compreensão mais profunda da dinâmica entre estrelas e buracos negros, e como esses eventos moldam a evolução das galáxias. A expectativa por um possível terceiro flare em 2026 mantém a comunidade científica em alerta, ansiosa por desvendar mais segredos do universo.
Referências
- [1] Makrygianni, L., Arcavi, I., Newsome, M., et al. (2025). The Double Tidal Disruption Event AT 2022dbl Implies that at Least Some “Standard” Optical Tidal Disruption Events Are Partial Disruptions. The Astrophysical Journal Letters, 987(1): L20. DOI: 10.3847/2041-8213/ade155
- [2] Tel-Aviv University. “Star survives black hole and comes back for more.” ScienceDaily. ScienceDaily, 6 August 2025. www.sciencedaily.com/releases/2025/08/250805041626.htm
